A Praia do Norte esteve à conversa com Nuno Figueiredo. O kitesurfer português é o detentor do recorde de kitesurf para a maior onda do mundo, surfada na Praia do Norte.
Qual é a sensação de ser detentor do recorde de kitesurf para a maior onda do mundo?
A sensação é de orgulho. Por ter conseguido bater o recorde do mundo cá em Portugal, sendo português. Diariamente vemos pessoas estrangeiras a baterem recordes mundiais e eu tive a oportunidade de reunir uma equipa totalmente portuguesa, com o Jorge Leal, o Sérgio Cosme, o Nuno “Violino”, o Hugo Vau, sempre com as suas dicas, que realmente ajudaram-me a concretizar este sonho. A primeira vez que fui à Nazaré, em 2016, fiz uma onda com cerca de 10/12 metros e aí apercebi-me que facilmente poderia bater o recorde do mundo. E foi o que aconteceu em 2017, com uma onda de 19 metros. Isto era mais um objetivo pessoal e o facto de se tornar num recorde mundial foi um bónus. Eu queria fazer algo que enchesse as minhas ambições e isso foi concretizado, o que é o mais importante para mim.
Representar a bandeira portuguesa nos livros do Guinness é um orgulho para ti?
Claro! Mais um português nos livros do Guinness é sempre um feito histórico. Isto é algo que fica registado e claro que fico super orgulhoso. Embora ache que o país podia dar um pouco mais a este tipo de desportos e podia ter um retorno maior. Mas, infelizmente, o futebol tem sempre uma representação maior e é visto por grandes massas. Mas é este o sistema que temos.
No dia 8 de Novembro de 2017 sentiste que podias estar a fazer história? Como correu esse dia na água?
Esse dia foi muito atribulado, no mínimo. Eu tinha planeado uns dias antes com o Jorge Leal e com o Andrew Cotton, para serem os meus apoios na água. O Jorge Leal cá fora e o Andrew Cotton na mota de água mas, infelizmente, o Cotty foi para o hospital com as costas partidas, com o wipeout do ano. De repente vi-me sem backup e, nessa altura, liguei ao Rafael Tapia, um grande amigo que também faz kitesurf e tem grandes noções sobre o assunto, e ele também me disse que tinha apanhado um caldo muito grande. Tinha caído numa onda e quase morria afogado e perguntou-me se eu tinha a certeza que queria entrar na água. E eu disse que sim, que as condições estavam a ficar excelentes e que se tivesse alguém que olhasse por mim, não ia deixar de entrar. O Tapia disse-me para eu entrar porque ele ia estar atento a mim. E foi isso que aconteceu! Entrei numa praia mais a norte, a Praia da Vieira, e desci até lá porque é na mesma direção do vento (descer ao vento é a designação que usamos no kitesurf) e aí vi mais apoio, como do Nuno “Violino” e mais companheiros de outras sessões. Depois de toda essa parte atribulada comecei a sentir-me confortável, apesar das condições insanas que estavam, até que encontrei a onda perfeita. Estava no sítio certo, na hora certa, e decidi fazer uma das maiores do set e tudo correu bem, como planeado. O importante é isso: planear bem as coisas na cabeça e ter uma visão daquilo que se vai fazer e esquecermos todos os outros problemas. E no final correu tudo muito bem!
A Praia do Norte tornou-se especial para ti, depois deste recorde?
Claro! Aliás, eu visitei a Praia do Norte várias vezes, antes disto acontecer. Cheguei a passar várias semanas apenas a surfar, com kite e sem kite, desde ondas de meio metro a 4 metros, para realmente me ambientar ao local. E isso foi muito fácil porque na Nazaré as pessoas são muito acolhedoras. Fiz várias amizades, como a Dina, que sempre me acolheu super bem e como o Rafael Tapia, que passa cá várias temporadas, tal como o Jorge Leal, que me acolhe em casa dele várias vezes. E a Praia do Norte é realmente um sítio muito especial porque em 2011, curiosamente, eu ganhei uma prova num campeonato francês que era o Yourmood Kite Cup. Havia uma prova de ondas e eu participei e ganhei. Sinto sempre um calafrio quando volto à Praia do Norte. Sempre que lá vou sinto uma mistura de emoções, numa praia tão bela e tão carismática.
No fim de semana passado foste distinguido na II Gala do Desporto da Nazaré. Sentes-te em casa, na Nazaré?
A Nazaré é praticamente a minha segunda casa. Muitas vezes vou até Peniche e fico na Nazaré. Já conheço bem as pessoas e os locais e sinto-me super confortável. Sinto-me em casa, sim!
Depois de conquistares um recorde do mundo, que objetivos pretendes atingir?
Ah pois! Isto é o que todos me perguntam. E agora, não é?! Realmente tenho mais objetivos mas não os posso revelar ahaha só vou contar à minha equipa, claro, e aos meus patrocinadores. Vêm aí umas coisas engraçadas! Este ano, infelizmente, foi muito mau para o kitesurf. Os ventos foram muito de mar. E não houve nenhum dia excelente, como vimos no ano passado. Até em termos de surf não foi o melhor, apesar de ter havido grandes dias. E o mais difícil para mim é que para o kitesurf existem dois ou três dias bons e um dia, se calhar, épico por ano, e este ano nem isso aconteceu. Vamos esperar pela próxima temporada, para concretizar outro objetivo, que vai divulgar também a Nazaré.