A Praia do Norte esteve à conversa com Nuno “Violino” Santos, um músico e surfista de ondas grandes, local da Nazaré. Nuno “Violino” é, essencialmente, conhecido pelo projecto Um Violino Nos Locais Mais Improváveis.
Como é que surgiu a ideia de tocar violino e surfar uma onda gigante da Praia do Norte ao mesmo tempo?
O conceito “Um Violino nos locais mais improváveis” surgiu há cerca de 10 anos, num período em que estive a trabalhar no Equador (América do Sul). Foi nesta altura que comecei a escalar vulcões, com o objectivo de tocar violino no cume (o violino foi sempre o meu fiel companheiro de viagem).
Quando regressei a Portugal, as únicas montanhas por perto eram as montanhas de água da Praia do Norte, pelo que foi bastante óbvio apontar para este novo desafio.
No fim de contas, a ideia de tocar violino em situações extremas acaba por reunir todas as minhas paixões – música, mar & montanha, num único objectivo. Ao mesmo tempo, é também uma forma de promoção do meu trabalho enquanto músico.
É difícil conciliar as duas ações? É preciso estar mais concentrado na onda ou no violino?
Na verdade, é bastante simples conciliar as duas acções. Para ajudar a perceber o que quero dizer, segue um pequeno exemplo: toda a gente consegue conduzir e conversar com o passageiro do lado ao mesmo tempo. Isto acontece porque, com a prática e experiência, automatizamos esquemas motores que nos permitem prestar atenção a vários assuntos ao mesmo tempo (outro exemplo poderá ser um músico que está a tocar o seu instrumento, enquanto presta atenção à partitura e ao maestro simultaneamente).
Claro que tudo isto não acontece de um dia para o outro, e naturalmente que os riscos são grandes. Daí a importância do treino e da preparação!
Teoricamente, um instrumento musical e água não são as melhores combinações. Estraga muitos violinos dessa forma?
Durante algum tempo usei violinos baratos em 2ª ou 3ª mão, para este desafio (um deles está exposto no museu do surf, no Forte de S. Miguel Arcanjo). Até ao dia de hoje, resultaram 3 “vítimas colaterais”. Contudo, gosto de pensar que dei um final de vida emocionante e memorável a 3 violinos que estavam condenados a uma morte lenta dentro do estojo, numa prateleira de garagem de alguém…
Fora de brincadeiras, estou neste momento a desenvolver, em conjunto com a empresa Dimlaser 3D um protótipo de violino impresso em 3D, que irá incluir algumas adaptações específicas para o mar.
Como descreve a sua ligação com a Praia do Norte?
A Praia do Norte é um local muito especial para mim. Estas ondas são uma força da natureza, que me relembram do quão pequeno sou, e da importância de ser humilde e resiliente.
É um sítio que me rebaixa constantemente, mas que também me oferece alguns dos melhores sentimentos que me recordo. É um local que já me pôs a chorar de joelhos, e aos pulos de alegria.
É um ambiente extremo (tal como as montanhas), que me tira da zona de conforto e traz ao de cima tudo o que sou como pessoa. Por outras palavras, é um contexto que me permite desenvolver um autoconhecimento profundo, que me permite compreender os meus pontos fortes, e fracos; e isto ajuda-me a perceber aquilo de que sou capaz, e o tipo de objectivos que posso definir para a minha vida.
Ao mesmo tempo, também expõe as minhas fraquezas; e a importância disto é que o primeiro passo para resolver um problema, é reconhecê-lo.
Estas aprendizagens acabam por definir o tipo de pessoa que sou, e fazer inclusive com que Um Violino nos locais mais improváveis se tenha tornado um projecto de vida.
Fotografia: Zeroad Photos