Conversa com… RICARDO BRAVO

A Praia do Norte esteve à conversa com Ricardo Bravo. O fotógrafo, que inaugurou no sábado passado uma exposição no Forte de São Miguel Arcanjo, é presença habitual na Nazaré e já publicou um livro que tem como foco principal as ondas da Praia do Norte (à venda no site da Praia do Norte: store.praiadonortenazare.pt/produto/livro-nazare)

Tem um livro dedicado às ondas da Praia do Norte, “Nazaré”. É o seu sítio preferido para fotografar?
Sim, publiquei o livro “Nazaré” em regime de “crowd funding” durante a fase mais dura da pandemia, em reação a tempos complicados em termos profissionais, mas também como forma de homenagem a um lugar tão especial para mim, de que guardo tão boas memórias e que é certamente um dos meus preferidos para fotografar. O Mar da Nazaré é único e considero-me um privilegiado por ter a oportunidade de o fotografar tantas vezes e a partir daí desenvolver projectos como o livro e agora a exposição.

Como surgiu a paixão de fotografar sítios como a Praia do Norte?
Faço bodyboard desde os 13 anos e comecei a fotografar “por brincadeira” por volta dos 16. Desde essa altura que criei uma ligação muito forte com o oceano, um fascínio, uma curiosidade constante, pelo mar e as suas imprevisibilidades, passando horas sem fim a fotografá-lo. Na Praia do Norte vi (e espero voltar a ver) as maiores e mais fascinantes ondas do mundo.

A exposição no Forte de São Miguel Arcanjo vai mostrar as suas fotografias a visitantes de todo o mundo. Era um dos seus objetivos estar num monumento como este?
Confesso que nunca me tinha ocorrido e foi com enorme prazer que aceitei o convite endereçado pela Câmara Municipal da Nazaré através do seu presidente Walter Chicharro, a quem não posso deixar de agradecer a confiança depositada no meu trabalho. Ter a oportunidade de mostrar as minhas imagens, aos muitos milhares de visitantes de todo o mundo que passam pelo Forte, é certamente um privilégio que só sai reforçado pelo local onde a exposição está patente. O Forte de São Miguel Arcanjo é afinal o ponto fulcral em torno do qual tudo acontece: o público que ali se reune para observar mais de perto os surfistas descerem as ondas gigantes, os profissionais de imagem que a partir desse local captam vídeos e fotografias para serem vistas no mundo inteiro, os spotters que observam a chegada de cada “set”, as ideias que se trocam, nascem, discutem durante os grandes eventos, a exposição permanente que tão bem explica o fenómeno, ao mesmo tempo que honra os muitos heróis do mar que já desafiaram a Praia do Norte e, claro, as ondas, a agigantarem-se ali mesmo em frente, a poucos metros das salas que recebem a exposição!

Quais são as maiores dificuldades nesta profissão?
No meu caso particular, passa essencialmente por conseguir conjugar horários de trabalho com os horários familiares. Nem sempre as horas da maré, a direcção do vento, a chegada das ondulações e o nascer do sol, andam em sintonia com os horários da escola e dos tempos livres em família… Às vezes parece mais um número de circo do que propriamente fotografia.

Como é que surgiu a profissão de fotógrafo na sua vida?
Costumo dizer que foi acontecendo naturalmente. Gostava de fotografar e não havia nenhum curso de outra área que realmente tivesse vontade de frequentar. Marketing, jornalismo, psicologia, eram áreas que me interessavam também, mas não tanto como a fotografia. Felizmente os meus pais apoiaram-me e tiveram capacidade para me pagar o curso do Ar.Co, que foi uma escola que me marcou para a vida, tanto pela sua filosofia como pelo corpo docente que era (e ainda é) excelente. A Etic e o Cenjor também são parte importante do meu percurso de estudante até me tornar profissional.  No início trabalhei numa loja de fotografia e em dois estúdios de fotografia publicitária para conseguir financiar as primeiras câmaras e objectivas, mas já fotografava surf e bodyboard em paralelo. Um pouco mais tarde, a Surf Portugal acabou por ser a revista com que colaborei mais tempo e onde encontrei mais espaço para crescer enquanto fotógrafo. Nas marcas de surf, trabalhei com as mais variadas, mas destaco a Quiksilver como a relação profissional mais longa e que se mantém até hoje.

Considera que os fotógrafos são importantes no reconhecimento da Praia do Norte pelo mundo?
Acho que são essenciais. Uma boa fotografia resume uma história completa, transporta consigo um mundo de ideias, mensagens, possibilidades…

Objetivos futuros no mundo da fotografia?
O principal objectivo é conseguir ter sempre algum tempo para fotografar o mar e com o mesmo fascínio de sempre.
Em paralelo, continuar a evoluir e a explorar outras áreas da fotografia em que já trabalho: arquitectura e interiores, automóveis e retrato.